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domingo, agosto 10, 2008

O duro ofício da notícia

Amanheci à cata de doce. Não, Leda(ê) Selma, não é doce de açúcar, guloseima, caqui ou rapadura, não... Doce para a mente e o espírito, que as notícias já não são sequer azedas, mas amargas, tristes, sementes de ansiedade e outros que-tais revoltantes. Não sei, sinceramente, o que pensar do estripador da inglesinha, tão “arrependido” do feito de que se orgulhou antes de ser preso (a ponto de exibir a telinha do telefone celular com imagens das partes seccionadas de sua vítima). Não sabe (o Brasil todo) o que houve nos últimos dias em torno do assassinato, por um policial americano do imigrante brasileiro.

Vi na tevê que uma brasileira em Londres, amiga do monstrinho Mohamed, que está envergonhada: “O que Londres vai pensar do Brasil?”. Poxa! Fiquei também sensibilizado: essa moça não se manifestou quando a Scoltlan Yard assassinou, com ênfase cinematográfica, um trabalhador brasileiro na mesma Londres. Certamente, dirá ela, Londres não tomou conhecimento, aquilo foi algo banal; sim: tão banal que a própria polícia inglesa entendeu que ninguém devia ser punido.

Pois é! Parece que nós, goianos, estamos mais civilizados: o caso foi tratado sem paixões bairristas ou nacionalistas e em tempo mínimo se fechou tudo: investigações, prisões e o inquérito.

E aí, leitor, vem de novo a minha ansiedade por doce. Não desses que elevam a glicemia, mas doces novas, quero dizer, boas notícias. E não é tão boa notícia a seleção masculina de futebol vencer a da Bélgica por um a zero. Boa notícia é Leda(ê) Selma lançar seu livro “Eu, hem?!” na Paulicéia (dia 15, no Magnólia Villa Bar, que fica na Rua Marco Aurélio, 884 – Vila Romana/Lapa). Boa notícia é a saída de três milhões de brasileiros da faixa de miséria (mas seria boa notícia também a redução do IR sobre os salários da classe média, que já caminha para a fixa de pobreza).

Mas enquanto não me chega o doce, outras coisas amargas são ditas nas tevês, nas rádios e nas linhas impressas dos jornais. Como os locutores esportivos violentando a Língua, estuprando-a com regências mal feitas ou mesmo com um desnecessário e injustificado inglesismo. Como aquilo que sugere importante apresentador no vídeo: por não gostar da palavra monólogo (que ele acha monótono, imagine!), sugere que os diretores teatrais apelidem a modalidade de “one man show”. É... Tem muita gente precisando voltar à escola; mas a maioria não deve, seria perda de tempo, pois, já dizia meu tio Aníbal Pereira, “papagaio velho não aprende a falar”.

E aí, novas colheradas de puro fel saem da telinha colorida para os hormônios da gente. Um agente de segurança privada, a serviço de um colégio católico, dispara contra um jovem que distribuía panfletos publicitários de uma festa. Tentou matar o jovem (claro: ou não teria atirado) e fugiu. Sim, o valente armado fugiu, como, aliás, costuma acontecer com todo valente armado, ainda que fardado (mormente quando a farda não é bem de Estado). E o moço, socorrido, “não corre risco de morte”, arrematou a solene apresentadora de tevê, mudando totalmente a expressão idiomática consagrada porque, entendem os “gramáticos” televisivos, a vida não é risco. Ah, tá! Gente, gente! Jamais se chame alguém de pão-duro: o que tem o pão dormido a ver com o dinheiro do usurário? Pelo visto, redatores de tevê aprendem Português com a Raquelly da novela global Beleza Pura.

E, para arrematar a série jiló, guariroba e jurubeba, no mesmo Colégio Santo Agostinho alguém da portaria bate a porta na cara da equipe da TV Record. Ainda bem que o cinegrafista pegou bem a cara do mal-educado. Se ele faz isso em plena democracia, imagino aquele sujeito no tempo da ditadura!

Acho que repórter, em Goiânia, vai ter de trabalhar escoltado pela Polícia Militar. Mas não vai adiantar: dia desses, a viúva de um sargento espancou uma repórter que cobria o velório.


3 comentários:

Anônimo disse...

Olá, Luiz

Li sua crônicas estão excelentes, como já comentaram você escreve muito bem e não precisa de confetes.
Sobre "Manda quem tem valete", existe algo que ninguém consegue mandar nem impor nada e acho isso maravilhoso, é o "pensamento". Na época da ditadura podiam gritar, mandar, torturar, mas no pensamento ninguém conseguia nada.Este pode voar e gosto de imaginar o que poderiam estar pensando as pessoas sofridas e torturadas.
E em relação a achar "doces" você tem toda razão, está dificílimo, além de amargos, azedos, também embrulham o estômago.
Precisamos continuar firmes e fortes.

Anônimo disse...

Embora a intenção era ser tão amargo quanto as revoltantes notícias, que nos cercam no dia a dia, o tiro saiu pela culatra, pois o resultado foi doce e suave. Os ingredientes traíram o autor, que fez deles uma mistura palatável. E ainda deu uma lição nos "inventadores" da nossa sofrida Língua Pátria.Duro ter de ouvir "risco de morte". Dói mais do que a notícia ruim em si.

Abraço, Mara

Anônimo disse...

Ótima, Luiz! Sua crônica representa a revolta de todos nós diante da forma como brasileiro é tratado lá fora (e, muitas vezes, também aqui), como nosso português é violentado sempre, como são inseridos, aleatoriamente, os famigerados estrangeirismos (galicismos, então...) em nossa língua, as barbáries (estas, sim, divulgadas no mundo inteiro) aqui perpetradas, enfim, você arreganhou muitas feridas num alerta às autoridades civis, militares e intelectuais (somos autoridades?!). Parabéns! Ah! e obrigada por citar-me, especialmente, em relação ao lançamento do meu livro em S. Paulo! Pelo menos, você divulga o que de bom Goiás leva lá para fora (perdoe-me a imodéstia!). Obrigada pelos "olhos" de sua crônica, tão atentos e lúcidos.