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terça-feira, junho 23, 2009

Canudo (não) é tudo!

Canudo (não) é tudo!


Luiz de Aquino


Sarney merece tratamento de majestade? Lula ainda não aprendeu a “liturgia do cargo”. Como fica a segurança pública em Goiás, com essa greve da Polícia Civil? Supremo extingue a exigência do diploma universitário para jornalistas. Segurados do Ipasgo na marginalidade... Tanto tema para uma só crônica! Ando com saudade do tempo em que era editor geral.

O presidente Lula, de lá onde estava, disse que Sarney “não é uma pessoa comum”. Não é mesmo! E pensar que, por um tempo, acreditávamos que o escroque era Toninho Malvadeza, o ACM. Hoje, e não é por ter morrido, ele parece administrador regional diante do cacique maranhense, amapaense etc. (dizem que é ele quem comanda Roraima, onde estabeleceu um preposto, o senador Jucá). Nesse ato, Luiz Inácio usurpou o papel de algum assessor de Sarney. Mais apropriadamente, um jornalista; com isso, Lula tornou-se o primeiro beneficiário da decisão do Supremo Tribunal Federal de dispensar o diploma para o exercício da profissão.

Jornalista (penso que diplomado) Alexandre Garcia falou por quase toda a Nação, no “Bom dia, Brasil” da TV Globo neste 23 de junho (justo quando nascia minha sobrinha-neta Sofia; parabéns, Leda e Gustavo!). O apresentador dizia, com suas palavras, que Sarney devia ser o primeiro a tratar-se como pessoa especial não cometendo atos que comprometem sua biografia de ex-presidente (da República, do Senado algumas vezes e de boa parte do Norte-Nordeste).

Em Goiás, a Policia Civil (de apenas três mil e quinhentos membros) faz greve. Falta tudo – salário digno, armas, munição, delegados, escrivães, agentes, viaturas, combustíveis etc. e tal). Apegamo-nos à PM, que tem mostrado eficiência e, justamente por isso, inverte opiniões (há alguns anos, falava-se em acabar com as policias militares; hoje, parece, os governos estaduais acabam com suas policias civis).

Médicos de Goiânia credenciados no Ipasgo não conseguem atender os segurados do instituto estadual porque algumas clínicas e hospitais não aceitam a promiscuidade dos funcionários rasos com poderosos que pagam , em média, trezentos reais por consulta. Alguém responde por isso? Olhem, não é culpa dos médicos, mas dos donos e dirigentes de clínicas.

Falando em dirigentes, volto aos jornalistas. No blog do jornalista (formado) e excelente músico Amauri Garcia encontro essa frase:

Você faria quatro anos de um curso cujo diploma não tem o menor valor no mercado? Qual será o significado do diploma de jornalista, senão um valor sentimental?

Ah, eu faria, sim! Nenhuma escola de Administração se fechou no país. A profissão de administrador é regulamentada, os profissionais têm conselhos federal e regionais, e inúmeros são os executivos de várias formações acadêmicas a administrar empresas e departamentos (muitos sequer têm formação superior alguma). A não exigência do diploma, penso eu, garantirá a permanência (já consagrada) de articulistas que se dedicam a temas específicos. Um jornalista articulista, ou mesmo cronista, costuma abranger uma gama sem limite, abordando vários assuntos.

Mesmo com a exigência da formação específica pouco após 1964, muitos são os jornalistas sem diploma específico. Acredito (e o bom senso induz a isso) que os veículos e empresas de comunicação tendem a buscar os melhores, e cabe agora aos diplomados demonstrarem que são melhores. Acho que isso já vem acontecendo (apesar de uma boa parcela dos formados escorarem apenas no canudo, deixando de lado os conhecimentos gerais, o domínio da Língua Portuguesa e da escrita, a boa pronúncia etc.).

Portanto, sejam bons profissionais e continuem estudando. Só o diploma ainda é muito pouco. Exercitem a escrita, leiam muito, conheçam de arte e literatura, de música e teatro (parece que jornalistas acadêmicos só gostam de cinema), de esporte e de leis (Constituição, Código Penal, Código Civil etc.) e saibam conversar, escrever e, principalmente perguntar, porque uma jovem repórter de campo, num segmento esportivo de tevê, esclareceu com muita propriedade: “Atletas só respondem tudo igual porque os repórteres perguntam tudo igual”.

Poxa, aprendi bem com aquela menina, certamente recém formada! Pena que não vi seu nome (falha do diretor de imagens, certamente; vai ver, não é formado).

Luiz de Aquino é jornalista e escritor, membroda Academia Goiana de Letras. E-mail: poetaluizdeaquino@gmail.com

9 comentários:

Marisa Zaiden disse...

Para que o diploma?

O ministro Gilmar Mendes janta em um dos melhores restaurantes de Brasília, lhe servem uma comida estragada.
Quando chega em casa o ministro sente-se mal, vai ao hospital. Chegando lá, sem lhe perguntarem o que está sentindo, amputam-lhe uma perna. Revoltado, o ministro volta para casa e convoca a imprensa. Apenas um jornalista vai à casa do ministro conversa com ele, vê que vive em uma suntuosa mansão, percebe que a mulher do ministro que é muito linda tem um caso com o motorista, que o ministro tem obras de arte, carros importados que fazem jus ao seu cansativo trabalho no Supremo de julgar as causas de todo o Brasil.
O repórter no entanto não dá a mínima atenção para a perna amputada do ministro, para a comida estragada ou para a história que o ministro tenta contar. Mais revoltado ainda, o ministro liga para um advogado e pede para entrar com uma ação contra o jornalista, o médico e o cozinheiro. A ação foi feita dentro de todos os parâmetros que a Justiça exige. Ao avaliar o mérito da questão o juiz não dá ganho de causa para o ministro, pois o cozinheiro que lhe fez a refeição estragada era advogado, o médico que lhe atendeu era açougueiro, o jornalista que foi à sua casa era um chefe de cozinha, o advogado que fez a ação era um jornalista e o juiz que julgou o mérito chama-se Marco Aurélio Mello.

De um jornalista com diploma.

Leda(ê) Selma disse...

Beleza de crônica, Luiz! como sempre, de utilidade pública, ou melhor, um texto mais que bombrilesco: com infinitas utilidades, pois informa, suscita discussão, enfim, tudo de que um bom texto precisa.

Sandra Falcone disse...

Excelente e lúcido texto. Lembrei de uma piadinha ridicula, depois de tudo isso o Maluf vai responder no Tribunal de Pequenas Causas...
Eita Brasil cor de anil !

Mara Narciso disse...

Luiz, como acadêmica do sexto período de Jornalismo, senti a casa esvaziar-se, mas não desistirei de chegar lá. Não será um diploma para dependurar na parede, mas uma comprovação do meu esforço. Muito mais deverá ser feito para me formar uma profissional inteira, mas os quatro anos já são um começo, um mero começo, mas mostra o rumo de tudo. Imaginava que era para frente que se andava, mas me enganei. Quando a tecnologia e a era do conhecimento imperam, acaba-se a obrigatoriedade de diploma.Coisa de louco.

Anônimo disse...

Luiz, adorei a crônica, e lendo os atos e fatos acontecidos e alguns que seguem acontecendo, e brilhantemente bem narrados por você,fui logo imaginando que a mesma alem de esclarecedora e util, levantaria um bom "combate" de letras; de bons e grandes letrados.Gosto de ler o que é bom,pouco me importa se é de um (a) jornalista, de um escritor(a) formado ou não. Imagino, que se fôssemos levar em conta, somente o diploma, ninguem teria lido os primeiros escritos de Machado de Assis.
Agora, estou com pena do Ministro "Gilmar Mendes", que depois de comer "comida estragada", ter a "perna amputada," tentar dar uma entrevista para um mal jornalista,ele siquer conseguiu, mesmo depois de tantos danos sofridos, propor uma ação criminal contra os profissionais incompetentes que o atenderam, ja que ele deu procuração a um "jornalista" e assim sendo, a hipotética ação nem chegou a ser peticionada, e muito menos ajuizada , ja que jornalista não pode peticionar,e nessa confusão toda... quem levou a melhor, e ficou de folga, foi o ministro Marco Aurélio de Mello.

Luiz, parabéns, sua crônica é mesmo de "utilidade pública" como bem disse a também escritora Lêda Selma.

Lêida Gomes.

Anônimo disse...

Luiz, adorei a crônica, e lendo os atos e fatos acontecidos e alguns que seguem acontecendo, e brilhantemente bem narrados por você,fui logo imaginando que a mesma alem de esclarecedora e util, levantaria um bom "combate" de letras; de bons e grandes letrados.Gosto de ler o que é bom,pouco me importa se é de um (a) jornalista, de um escritor(a) formado ou não. Imagino, que se fôssemos levar em conta, somente o diploma, ninguem teria lido os primeiros escritos de Machado de Assis.
Agora, estou com pena do Ministro "Gilmar Mendes", que depois de comer "comida estragada", ter a "perna amputada," tentar dar uma entrevista para um mal jornalista,ele siquer conseguiu, mesmo depois de tantos danos sofridos, propor uma ação criminal contra os profissionais incompetentes que o atenderam, ja que ele deu procuração a um "jornalista" e assim sendo,a hipotética ação nem chegou a ser peticionada, e muito menos ajuizada, ja que jornalista não pode peticionar,e nessa confusão toda... quem levou a melhor, e ficou de folga, foi o ministro Marco Aurélio de Mello.

Luiz, parabéns, sua crônica é mesmo de "utilidade pública" como bem disse a também escritora Lêda Selma.

Lêida Gomes.

Wandell Seixas disse...

Caro Luiz de Aquino

Sou daqueles jornalistas sem diploma, porque comecei bem cedo minha vida profissional na redação do Diário do Oeste. No entanto, busquei um curso universitário. Direito me pareceu, como ainda me parece, dos mais completos, porque envolve tudo - Direito Romano, Direito Constitucional, Direito do Trabalho, Direito Ambiental, Direito Internacional, Direito Canônico, Direito Penal e por aí vai. Guindado para a Editoria de Economia, então em O Popular com Domiciano de Faria, voltei à Faculdade. Desta vez, para fazer o curso de economia. Depois de dois anos e meio, deixei o curso, porque precisava ganhar o pão de cada dia. As matérias corresponderam. Tive oportunidade de distinguir melhor as escolas - Adam Smith, Keines, Marx, entre outros. Com isso, oferecer algo melhor ao público. Nada de escrever besteira como você bem diz em seu artigo bastante interessante. A leitura de bons autores é fundamental. Viajar e conhecer culturas, seja nos grandes centros urbanos, no sertão, nas metrópolis internacionais ampliam nossos horizontes. Apesar de tudo, não sou contra o curso de comunicação, mas o futuro jornalista tem que compreender que somente atingirá um melhor destino profissional se ler muito, aprender gramática e a alma das pessoas.
Wandell

Maria Helena Chein disse...

Luiz, um dia azul para você.
Parabéns pela homenagem da Escola Evangelina Duarte Batista,
aliás, da melhor forma possível: ser conhecido e estudado.
A crônica "Canudo (não) é tudo!" é esclarecedora e mostra sua
preocupação por tanta coisa "mal arrumada".

Abraços.

Maria Helena

Marluci Costa disse...

É isso aí, Luiz! Passou o seu recado muito bem. Nenhum formando, ou não, pode parar de estudar. Apesar de, nos dias de hoje, precisarmos nos aperfeiçoar sempre, estudar nos faz crescer, reinventar, recriar. Estudar é tudo de bom.