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sábado, junho 20, 2009

Um pé nas minas de Pirenópolis


Um pé nas minas de Pirenópolis (*)


Luiz de Aquino - poetaluizdeaquino@gmail.com.br






Meu canto telúrico remonta, certamente, à pregação da primeira professora, Dona Vanda Rodrigues da Cunha, em Caldas Novas. Moça bonita, de longos cabelos negros, ênfase na fala e uma insistente apologia às qualidades dos rios de água fria e às fontes termais da pequenina urbe sul-goiana.


Assim aprendi a amar minha terra: a partir de Caldas Novas até os não-limites pátrios, com ênfase para dois pontos especiais – o Rio de Janeiro e Pirenópolis – antes de me fazer goianiense pleno.

Em casa, estimulado pelo pai, eu cantava canções e valsas de serenata. Meu velho, ainda muito moço, tocava ao bandolim ou ao violão as peças de sua infância, acompanhado pelo inseparável José Pinto Neto, boêmio-símbolo da minha terrinha natal. O repertório de meu pai compunha-se, pois, do cancioneiro nacional divulgado pelas rádios e ainda as de compositores goianos, especialmente os de Pirenópolis – obviamente, com destaque para as da lavra do meu avô paterno, de quem herdei o nome.



A saudade é também forte êmulo. Aos dez anos, fui morar com minha avó Inês, no Rio de Janeiro. Concluído o curso primário, ingressei no Colégio Pedro II, onde concluí o ginasial e iniciei o Clássico. Em vésperas do aniversário de 18 anos, retornei a Goiás e matriculei-me no Liceu de Goiânia, onde concluí o Clássico. Casei-me, tive meus filhos, cursei Geografia na Universidade Católica e, ali, estreitei amizade com o professor José Sizenando Jaime, pirenopolino de ótima cepa.


Meu avô e meus tios, meus primos e novos amigos, além (claro!) da beleza da mulher da terra fizeram-me assíduo na velha Meia-Ponte. Apaixonei-me pela cidade, seus vultos e sua História, sua veia de literatura e música. A luz da lua sobre as pedras do Rio das Almas, vazando o balaústre da ponte fazia renda nas areias da praia. Subia ao morro do Frota, às grimpas da serra da pedreira, rumo aos Pireneus, errava nas miúdas estradas de fazenda, cantava ao luar e atrevia-me (naquela época dos anos 70 do século passado, hoje não...) a tirar agudos de um belo cavaquinho que jamais mereci.



Ao mesmo tempo, poetizava. Escrevia para exaltar as pedras das ruas e dos rios, o verde das pastagens e da natureza, o frio do Rio das Almas, a cantiga feliz das cachoeiras. Sob esse clima, cometi, numa das minhas primeiras publicações em jornais,

uma crônica alusiva à cidade e à Festa do Divino: “Tem maromba, ronqueira e banda-de-couro”. Não tardou muito e produzi, em parceria com José Pinto Neto (sim, o amigo de adolescência de meu pai) uma canção: “Sentimento pirenopolino”. No gosto popular da cidade, essa canção é chamada de modo mais simples e sonoro, embora menos abrangente: “Manhãs alegres”.



Em síntese, estes tantos anos de amor à cidade mostram-me, hoje, que tenho material de prosa para um livro festivo, alusivo à terra-berço de meu pai e de cuja Academia sou membro fundador e ex-presidente.

Cuidarei disso.




(*) As fotos (exceto à minha com o Gabriel ao colo) são de Dalva José Pereira que, como eu, nutre uma paixão irresistível pela antiga Meia-Ponte de Nossa Senhora do Rosário.

Luiz de Aquino, poeta e jornalista, membro da Academia Goiana de Letras.

8 comentários:

Mara Narciso disse...

Doce casamento de texto e fotos numa complementaridade sem igual. Um amor assim deve ser regado, mas nem precisa. A força das palavras e da saudade mostram intensidade compatível com quem ama de verdade uma terra que foi passado, mas que hoje vem na memória como um presente que dá prazer. Cultive esse gosto, essas águas, essas pedras, essas lembranças. Mal não faz. Aliás faz um bem!

Maria Helena Chein disse...

Doce e muito boa esta crônica, Luiz. Gostei das fotos.
Você tem excelente memória, como tenho observado.
Abraços domingueiros.
Maria Helena

Fátima Paraguassú disse...

Seu amor a Pirenópolis tem talvez a dimensão de meu amor por minha Santa Cruz de Goiás.
Aproveitando seu espaço, convido seus amigos a visitarem minha terra por intermedio de www.santacruzdegoias.net ou www.santacruzdegoias.com
Voce meu amigo de fé e poeta camarada.

Sônia Marise Teixeira Silva de Souza Campos disse...

Conseguiu. Salta aos olhos o tamanho do seu carinho....é mesmo uma cidade especial. Pena perder o ar bucólico e tranquilo com essa turistaiada...rs..rs.rs

Sônia Marise

Carlos Máximo disse...

Boa tarde, poeta!


Como tem passado?


Não tenho mais dúvidas quanto à sua qualidade literaria.


A crônica de hoje deixou-me em alvoroço de tamanha beleza e sentido.


Meus verdadeiros aplausos pelo belissimo trabalho.


Ler Luiz de Aquino é uma escola incentivadora por meio do Jornal DM. Sinto-me muito honrado em ter essa condição de acesso agradavel.


*Ah... Precisamos marcar aquele café que já haviamo falado. Não é mesmo?!

Placidina Lemes de Siqueira disse...

Placidina Lemes para mim
mostrar detalhes 15:35 (3 horas atrás)

Que construção verbal linda, Luiz! Uma arquitetura de dar espanto aos... Você relamente teceu com carinho deixando sua personagem Lua mostrar serviço meio l(r)ndário.

"A luz da lua sobre as pedras do Rio das Almas, vazando o balaústre da ponte fazia renda nas areias da praia".


...Para você, posso trazer,
um cordel do Ceará:
olê, homem rendeiro,
olê, homem, rendá...


Placidina

Paulo Pedro Pinto disse...

Amigo Poeta, quantas emoções!!! Saiba você, meu companheiro e contemprorâneo das delícias deixadas no passado, em nosso querido Marechal, que , não muito raro quando estou no Rio, realizo proezas desse tipo: já saí de MH de trem até a central; caminhava pela famosas ruas do Rio até a praça XV; pegava uma lancha até Paquetá: tomava uma cerveja bem gelada e voltava no próximo barco. Já peguei, também, o 378 soltei no ponto final e ia à pe até a estação dos bonde de Santa Tereza onde eu embarcava a fim de percorrer todos os trilhos possíveis. Amigo pirenopolino(?), o melhor passeio que dou, onde realmente volto ao passado é quando estou na casa da minha irmã Rosani e saio para fazer a minha caminhada diária. Começo pela Marina, Xavier Curado, Retorno, pela frei Sampaio, volto pela General Claudio... e assim vou até a João Vicente, Divisória e Marina, onde minha irmã mora.
Um grande abraço. Parabéns pela crônica. Paulo

Unknown disse...

Como é bom ler uma escrita que nos deixa o coração a escorrer de amor,de reconhecimento de um passado que estará sempre presente.Que linda terra!Cachoeiras,verdes,pedras,luz que nos transporta para um lugar paradisíaco.Beba essa beleza por mim Amigo.