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terça-feira, janeiro 20, 2009

De vultos e vulgo, também

De vultos e vulgo, também

Luiz de Aquino

Tiroteio em escola, policiais que não sabem atirar (será?), briga à saída da boate, álcool e volante, pedófilos, seqüestros, assaltos, furtos... Estávamos, todos, indignados com as más notícias, essas que causam azia ao presidente Lula. Tanta música ruim, mas tanta música boa; tanto teatro e tanta leitura (ruins e também bons), tanto cinema, tanta tevê... Mas o evento marcante na vida de Goiânia e cercanias foi o reconhecimento público ao nosso primeiro prefeito, o professor Venerando de Freitas Borges. Aquela estátua é um marco, tanto quanto o foi o velho mestre, falecido há exatos 15 anos.

Sobra para José Mendonça e Ubirajara Galli, idealizadores desse feito, a incumbência de juntar crônicas e artigos produzidos sobre o fato e enfeixá-los num livro. Não sei como reagiria Venerando a mais uma homenagem. Ele fazia piada com o fato de haver, em Goiânia, nada menos que três ruas e avenidas com seu nome

A Secretaria da Educação do Estado fechou uma Escola Venerando de Freitas. Escolas nunca devem se fechar. Prisões, sim, e em dois sentidos: o de impedir fugas e o de desativá-las; mas a última hipótese é utópica, dependeria da proliferação dos educandários, com excelente qualidade de professores, remunerados com dignidade – coisas improváveis ainda entre nós.

Gostei de ler o artigo de Batista Custódio (Os vultos e o vulgo, DM de 19/01/09) sobre as homenagens que faltam aos vultos locais. Especialmente no que toca às praças de Goiânia, quase todas sem nomes. Batista listou figuras da nossa história, desde educadores até políticos, passando por profissionais de realce e artistas vários. E o faz em bom momento, pois o prefeito está receptivo a boas idéias, o que não se via por aqui há décadas.

Os núcleos urbanos mais antigos e referenciais no Brasil exercem essa prática de homenagear seus vultos. Em Goiás, a timidez nos levava aos heróis dos outros.: quase todo povoado goiano tinha uma Avenida Rio Branco e uma Praça Getúlio Vargas. Assim, Goiás, pobre de nobres do Império, era cheio de endereços com as palavras Barão e Marquês, sem contar a troca imediata de nomes (no tempo da ditadura militar) para homenagear o general de plantão na Presidência da República.

Não há muito, o prefeito César Maia (felizmente, despediu-se uns dias antes de Bush, mas foi quase tão nefasto quanto) vetou um projeto da Câmara Municipal do Rio de Janeiro que dava o nome do palhaço Carequinha a uma escola. Motivo? A lei, no município da antiga capital do País, exige que as escolas tenham nomes de educadores, apenas. Ótima lei! Poderíamos repeti-la por aqui... Afinal, em Goiânia um só vereador dá nome a uma escola municipal e a outra estadual, mas o homem nada tinha de educador, nem de envolvimento com a área – tanto que era conhecido com a palavra Besteira posta após seu nome.

Em 17 de maio de 2006, escrevi ao secretário Kléber Adorno, da Cultura Municipal (gosto de tê-lo de volta, Kleber!), expondo e sugerindo:

"Constatamos, todos nós, que a quase totalidade dos logradouros públicos de Goiânia não têm nomes que homenageiem os vultos da nossa ainda jovem História. São eles pessoas públicas dos mais variados segmentos e carecem de referências que os dignifiquem na memória goianiense. Falo, exclusivamente, dos vultos da cidade, e não do Estado ou do País. A intenção, aqui, é propor a V. Exa. uma iniciativa que resulte em dar nomes de artistas, educadores, políticos – enfim, pessoas de inegável contribuição à consolidação da vida social, cultural, econômica e política da Capital".

Fico muito feliz com a proposta de Batista Custódio, não pelo mero fato de se somar, ricamente, ao que sugeri há quase dois anos, de modo reservado, à Municipalidade. Alio-me, pois, por velha convicção, a essa luta. E gostaria de ver ligeiras adaptações, como, por exemplo, que a Escola Deputado José Luciano retifique seu nome para Escola Professor José Luciano. Não por menosprezar ou reduzir a importância do respeitável cargo eletivo que o velho professor exerceu com dedicação, competência e dignidade (eram parcelas de sua personalidade; antes de ser deputado, ele foi também vereador), mas porque o titulo Professor o identifica mais apropriadamente com o ambiente escolar.

Falta-nos, aos goianienses, essas medidas. Uma via a que nos referimos como Rua J-17 ou Terceira Avenida tem apenas uma referência dessas que os técnicos aplicam em seus planos e projetos, mas um nome próprio, ainda mais quando imortaliza alguém de relevância comunitária, passa a ser parte íntima da nossa vida. Da nossa história de vida.


Luiz de Aquino é jornalista e escritor, membro da Academia Goiana de Letras. E-mail: poetaluizdeaquino@gmail.com.

5 comentários:

Mara Narciso disse...

"A César o que é de César". Não podemos nunca deixar para tras, no esquecimento, o nosso passado, e para lembrá-lo, nada melhor do que ver em logradouros públicos( denominação antiga), os nomes de quem merece. Não é de hoje a sua argumentação contra a numeração das ruas de Goiânia.

Anônimo disse...

Amigo Idealista Racional,das linhas maiores que entrelinhas, ou seja, das letras maiores que entreletras "De Vultos e Vulgo, Também".

Acabo de escrever in englishcaiapó: "No Trema Diante do Tupi".
Gostou?

Anônimo disse...

SEI QUE ISSO ACONTECE, mas...

A - Interessante: ... estava relendo uma revista, justamente um título, Novos Referenciais Educacionais No Século XXI, onde o autor põe uma série de porquês, dentre eles, “ Por que constroem mais prisões? ; por que não construir mais escolas?” quando leio seu texto contestador, “ De vultos e vulgo, também”.
Interessante, coincidência ou não, foi no dia 4 de janeiro, embasada nessa leitura, que escrevi o meu DEU ELO, dedicado ao Lucas; por sua dupla condição: meu amigo criança, e escritor menino filho de escritor.

B – Interesseira eu sou, amigo, e sou atêntica, então envio-lhe os poemas abaixo e o seguinte: tenho um livro inédito, e olha que não é nada novo, e acredito em seu valor no meio intelectual. Seu título está saindo por aí e lógico, fazendo e fará o maior sucesso no meio popular. Preciso mostrar-lho com urgência, devido ao fator “perda de ineditismo”. Que meus escritos não sejam “novidadeiros”, porém, num futuro ao serem publicados, que não sejam taxados de cópia.
Não estou com tempo (psicosócioeconômico) de editá-lo. É uma boa opção deixar uma cópia na AFLAG, não é? Tenho fé em Deus que vou editá-lo antes de completar 15 aninhos pela quinta vez.
Você tem outras sugestões que possa me fornecer?

PARA LUIZ DE AQUINO
Loucura da Cultura,
amigo velho ou velho amigo...
Deixa comigo o Lucas,
ele percebe o peso e a paz e é capaz,
pois traz ainda quentinho
do mundo de “anjos das alturas” sem apuros,
conceitos de uma alma pura...


RECOMEÇAMENTOS
Para o Lucas da Mary Anne

... e no princípio
que eu penso que invento,
não é que acaba sendo o mesmo Verbo
e sua clemência o meu ponto final,
começo de reticência!!!


DEUS ELO

Dentro do meu templo,
onde escrever é doce carma,
fito uma criança pedindo mais escolas
a um militar sem arma,
mas com o maná que ac(alma)...

Placidina Lemes Siqueira

Diego Francisco disse...

A educação, a valorização das lutas contemporâneas,as antecedem, acredito que são o caminho para seguir o caminho que está escrito em nossa bandeira - progresso.

Anônimo disse...

Poeta Aquino, este costume politico de inaugurações de obras publicas com nomes até, digamos, sem cabimento algum, parece mais ser coisa de narcisismo e bajulação política. Recordo-me da inauguração de um Centro Esportivo numa cidade aqui da região que leva o nome de uma pessoa que nunca botou os pés na cidade e é bem provável que nem interesse teve para fazê-lo. Talvez um dia tudo isto mude. Quem sabe? Nossa eleição aqui para camara de vereadores foi muito boa, uma vez que alguns que já estavam habituados ao cargo não foram eleitos e outros que nunca ocuparam o cargo de edil mas eram conhecidos pela população como elementos de pouca confiança também não entraram. É o futuro fazendo a limpeza; e isto vai acontecendo no Brasil todo.