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sábado, janeiro 10, 2009

Régua e relógio


Régua e relógio

Luiz de Aquino

Por que será que, ao longo da vida, em praticamente todos os nossos instantes, somos levados a tomar medidas? Medem-nos desde a concepção até o momento derradeiro, sob as várias visagens e os vários conceitos de que se reveste nossa existência... A começar do fato de que o início de uma vida se dá quando as que  a  concebem estão, teoricamente, a meio de seu tempo. E medem-se o tempo e o espaço, sob os variados conceitos que se faz de espaço e de tempo.

Curiosamente, as medidas estão, quase sempre,

 emparelhadas, próximas, muitas vezes integradas. Dificilmente agimos no espaço sem considerar o tempo, e vice-versa.  História e Geografia, a par e a passo, integradas, tal como, por uns tempos, se formavam professores com vistas aos ditos “estudos sociais” identificando o homem em seu tempo e situando-o em seu espaço.

Medir, avaliar, considerar: coisas que, se desprovidas de sentimentos, são chamadas de técnicas; mas se à métrica, ao sopeso e ao cronômetro atrelarmos a sensibilidade humana, a coisa vira ciência. Ou poesia.

A saudade, palavra que já foi, inúmeras vezes, dita a mais bonita da “última flor do Lácio, inculta e bela”(Ih! Bilac morreria outra vez com esta reforma... Mas não falarei de reforma ortográfica hoje. Hoje é dia de eu tentar medir  sentimentos)... A saudade, eu dizia, é um produto da medida do tempo e da distância.  Certa vez comentei sobre essa crença tão nossa, povos lusófonos, de que “saudade”só existe em Português, e Arthur de Lucca, amigo atento e culto, corrigiu-me em delicada e bem sustentada carta. Sim, é claro... O sentimento da saudade é universal, mas a exclusividade da palavra é igual à de tantas outras. Por exemplo, a terminação “ao”, esta sim, é exclusiva da nossa língua. É possível, sim, que sejamos os povos que mais se escoram na saudade... Sim! O que seria da  poesia sem a saudade, hem?

Ah, a poesia! Ainda existem os amantes de poesia que só a entendem se vier carregada de métrica e rima. Rimar e metrificar não é difícil, isso se pode conseguir com técnica e prática. Difícil é produzir poesia em frases e expressões. Isso é privativo dos poetas. Sendo assim, poetizar é uma coisa, versejar é outra. Bom versejador há de ser bom poeta, ou será um produtor de meras frases de efeito, com medidas em silabas e tonicidade, mas sem o “molho” bem temperado do ritmo envolvente, do resultado sentimental, da almessência a que chamamos de poesia.

Poesia é língua, com todos os seus apetrechos. E é História, é Geografia, é Ciência e Sentir, tudo assim, com iniciais maiúsculas.

Dia desses aí, há bem poucos dias, produzi esse poeminha despretensioso, cheio de sonho e saudade, que chamei de 


Três rainhas, Zona Oeste


A pedra tem seu peso

 e pesa, nua. Mas aos olhos,

 parece-me, flutua.

 

A forma é ímpar: alva Gávea

de saltos ousados: voa-se leve

para se pousar na praia.

 

Folhas filhas de amendoeiras

enfeitam as fotos onde em cima

reina um morro ainda de pelos,

 

(Os verdes pelos perdidos

 para acolher moradias favelas:

tristeza dos nossos dias).

 

Paisagens de sábado, dia feliz, 

três lindas queridas,  olhares sorrisos

de me encantar. Luiz.

 

Talvez não devesse dizer, mas é saudade de longe (na Terra e no ontem).

 

Luiz de Aquino é escritor e jornalista, membro da Academia Goiana de Letras. E mail: poetaluizdeaquino@gmail.com



4 comentários:

Anônimo disse...

Linda!!Sua saudade é sempre recheada de poesia e rimas,suas palavras soam como música suave..
Que torna a saudade ainda mais poética!
Parabéns poeta, Luiz de Aquino!

Mara Narciso disse...

Luiz,

"Escrevi um poeminha despretensioso"

Como seria um poema pretensioso? Quando um poeta é poeta mesmo? É possível aprender a fazer poesias?

Há quem domine a linguística e escreva textos sem graça, apenas burocráticos, sem charme, enfadonhos. A canetinha vermelha, que essa pessoa se impõe, trava a sua escrita.

Há quem pouco saiba de técnicas e que consegue escrever com intensa graça, no sentido de cativar, seduzir, atrair intensamente. A leitura se dá numa leveza fluida de prazer.

Fazer poemas também é assim. Não sei como são feitas as escolhas das palavras por você, e como consegue capturá-las no pensamento. Nem tudo entendo, mas o fato é que os seus poemas têm sabor, e eu gosto.

Romário Nogueira disse...

Nossa!
Que “molho”
De sabores concentrados.
Penas, rimas e ritmo cadenciado
O Poeta Luiz de Aquino
Tem nos presenteado.
Que como ele nos falou
sem nenhuma pretensão.
E o resultado, sentimento
Nobre no coração
No instante que a gente
Desprende do chão
E voa no charme
Que a sua Poesia tem.

Irinéa MRibeiro disse...

É muito dificil mexer tão fácil com as palavras!
Uma virtude que poucos têm,
Um dom que Deus dá aos escolhidos...
E os escolhidos são denominados de poetas.
boa noite, poeta!