Régua e relógio
Luiz de Aquino
Por que será que, ao longo da vida, em praticamente todos os nossos instantes, somos levados a tomar medidas? Medem-nos desde a concepção até o momento derradeiro, sob as várias visagens e os vários conceitos de que se reveste nossa existência... A começar do fato de que o início de uma vida se dá quando as que a concebem estão, teoricamente, a meio de seu tempo. E medem-se o tempo e o espaço, sob os variados conceitos que se faz de espaço e de tempo.
Curiosamente, as medidas estão, quase sempre,
emparelhadas, próximas, muitas vezes integradas. Dificilmente agimos no espaço sem considerar o tempo, e vice-versa. História e Geografia, a par e a passo, integradas, tal como, por uns tempos, se formavam professores com vistas aos ditos “estudos sociais” identificando o homem em seu tempo e situando-o em seu espaço.
Medir, avaliar, considerar: coisas que, se desprovidas de sentimentos, são chamadas de técnicas; mas se à métrica, ao sopeso e ao cronômetro atrelarmos a sensibilidade humana, a coisa vira ciência. Ou poesia.
A saudade, palavra que já foi, inúmeras vezes, dita a mais bonita da “última flor do Lácio, inculta e bela”(Ih! Bilac morreria outra vez com esta reforma... Mas não falarei de reforma ortográfica hoje. Hoje é dia de eu tentar medir sentimentos)... A saudade, eu dizia, é um produto da medida do tempo e da distância. Certa vez comentei sobre essa crença tão nossa, povos lusófonos, de que “saudade”só existe em Português, e Arthur de Lucca, amigo atento e culto, corrigiu-me em delicada e bem sustentada carta. Sim, é claro... O sentimento da saudade é universal, mas a exclusividade da palavra é igual à de tantas outras. Por exemplo, a terminação “ao”, esta sim, é exclusiva da nossa língua. É possível, sim, que sejamos os povos que mais se escoram na saudade... Sim! O que seria da poesia sem a saudade, hem?
Ah, a poesia! Ainda existem os amantes de poesia que só a entendem se vier carregada de métrica e rima. Rimar e metrificar não é difícil, isso se pode conseguir com técnica e prática. Difícil é produzir poesia em frases e expressões. Isso é privativo dos poetas. Sendo assim, poetizar é uma coisa, versejar é outra. Bom versejador há de ser bom poeta, ou será um produtor de meras frases de efeito, com medidas em silabas e tonicidade, mas sem o “molho” bem temperado do ritmo envolvente, do resultado sentimental, da almessência a que chamamos de poesia.
Poesia é língua, com todos os seus apetrechos. E é História, é Geografia, é Ciência e Sentir, tudo assim, com iniciais maiúsculas.
Dia desses aí, há bem poucos dias, produzi esse poeminha despretensioso, cheio de sonho e saudade, que chamei de
Três rainhas, Zona Oeste
A pedra tem seu peso
e pesa, nua. Mas aos olhos,
parece-me, flutua.
A forma é ímpar: alva Gávea
de saltos ousados: voa-se leve
para se pousar na praia.
Folhas filhas de amendoeiras
enfeitam as fotos onde em cima
reina um morro ainda de pelos,
(Os verdes pelos perdidos
para acolher moradias favelas:
tristeza dos nossos dias).
Paisagens de sábado, dia feliz,
três lindas queridas, olhares sorrisos
de me encantar. Luiz.
Talvez não devesse dizer, mas é saudade de longe (na Terra e no ontem).
Luiz de Aquino é escritor e jornalista, membro da Academia Goiana de Letras. E mail: poetaluizdeaquino@gmail.com
4 comentários:
Linda!!Sua saudade é sempre recheada de poesia e rimas,suas palavras soam como música suave..
Que torna a saudade ainda mais poética!
Parabéns poeta, Luiz de Aquino!
Luiz,
"Escrevi um poeminha despretensioso"
Como seria um poema pretensioso? Quando um poeta é poeta mesmo? É possível aprender a fazer poesias?
Há quem domine a linguística e escreva textos sem graça, apenas burocráticos, sem charme, enfadonhos. A canetinha vermelha, que essa pessoa se impõe, trava a sua escrita.
Há quem pouco saiba de técnicas e que consegue escrever com intensa graça, no sentido de cativar, seduzir, atrair intensamente. A leitura se dá numa leveza fluida de prazer.
Fazer poemas também é assim. Não sei como são feitas as escolhas das palavras por você, e como consegue capturá-las no pensamento. Nem tudo entendo, mas o fato é que os seus poemas têm sabor, e eu gosto.
Nossa!
Que “molho”
De sabores concentrados.
Penas, rimas e ritmo cadenciado
O Poeta Luiz de Aquino
Tem nos presenteado.
Que como ele nos falou
sem nenhuma pretensão.
E o resultado, sentimento
Nobre no coração
No instante que a gente
Desprende do chão
E voa no charme
Que a sua Poesia tem.
É muito dificil mexer tão fácil com as palavras!
Uma virtude que poucos têm,
Um dom que Deus dá aos escolhidos...
E os escolhidos são denominados de poetas.
boa noite, poeta!
Postar um comentário