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sexta-feira, agosto 28, 2020

Antiga manhã, aquela

 

Caldas Novas, Praça da Matriz - final da década de 1940.


Antiga manhã, aquela

 

À porta da minha casa
um homem cantava modinhas
e era feliz.

 

Minha mãe torrava café,
meu irmão andava cambaleante,
usava botinas e meias
e tinha ao pescoço uma chupeta
de borracha vermelha
que emitia um assobio – e nada mais
usava meu pequeno irmão.

 

Era manhã de sol, manhã antiga
naquele ermo ao sul de Goiás.

 

Era alegre a cantiga
de Antônio Cego, o preto
que cantava à porta.


Antônio Cego era um homem feliz.

 

* * * * * *


Luiz de Aquino, escritor de prosa e poesia

12 comentários:

Rosy Cardoso disse...

Você também me conduziu a minha infância .

Unknown disse...

Marly Paiva
Lembrança da infância com poesia é ainda melhor, como se vê.

Zanilda Freitas disse...

Lembrar a infância em um belo poema é privilégio de grandes poetas, especialmente quando se tem a sensibilidade de perceber que "Antonio cego era um homem feliz"

Nádia Aparecida disse...

Nádia Aparecida disse...

Muito emblemática a figura de Antônio Cego. Quando criança, eu ficava sentada na porta, esperando um Senhor de Patos de Minas que passava após ter ido às compras no mercado. E eu pedia pra ele repetir e o imitava: "Eu sou patureba, emborca mas não quebra". Nunca esqueci os trejeitos dele.

Ana Paula Mota disse...

Ana Paula Mota disse...

Que delicadeza! Queria acessar suas lembranças e saber como.era Caldas Novas nesse período. Devia ser deliciosa!

Antônio Costa Neto disse...

Antônio Costa Neto disse...

Lindo demais. Antonio Cego sou eu. Cego por dentro. Canto e sou feliz.
Luiz, seu poema me lembrou Olhos d'Água, um arraial bem bucólico ali em Alexânia. Vc já foi lá? Vamos agendar uma ida lá a qualquer hora? Vc vai adorar. Vai querer virar o Antonio Cego de lá. Bora?

Nonatto Coelho disse...

Nonato Coelho disse...

Que coisa linda esse poema "remoto", Aquino, poeta nasce vendo e sentindo a vida na intensidade e ostenta esse sentimento, essa soberba atenção à beleza ou a dor do existir. Obrigado por compartilhar comigo. Tenha um excelente final de semana, meu brother. 😀

Waldir Ferreira disse...

Waldir Ferreira disse...

Bom dia meu querido. Aquela chupeta de borracha vermelha que emitia um assovio fazia coro àquele homem que cantava modinha, trazendo luz à alma da criança que se tornou um grande poeta.
Um bom final de semana.
Abraços

Lea Paz disse...

Belas reminiscências, poeta!

Fernanda Cruz disse...

Belíssimo poema. Remonta nossa memória afetiva, suas imagens, sua aura de eternidade...

Fernanda Cruz disse...

Belíssimo poema. Remonta nossa memória afetiva, suas imagens, sua aura de eternidade...

Unknown disse...

Lindo poema! Voltei no tempo... tempo em que era tão simples ser feliz!