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quarta-feira, agosto 19, 2020

Árvore de tarde e memória, de L.deA.

Árvore de tarde e memória

 Luiz de Aquino

 

Há um sentir, a começar de um sentimento fugaz
e comum, olhar:
é identidade, afinidade e...
Ah, algo assim como um caminho,
começa e prossegue...

 

            Lembra-me uma tarde,
            calor e muito encanto... Descobri coisas.

 

– Lembra? Havia uma árvore, solene e só,
como esquecida e sem dona, alheia ao tempo
e aos comuns, que não a notam nem quando,
sôfregos e cansados, confortam-se da sombra.

 

Ah, e me conta que está florida! Preciso vê-la;
lembro-me que a fiz presente
do aniversário de logo antes,
Sexta e treze e Santa.

 

Aquela tarde... Inesquecível, ela! Contou-me coisas
novidades... Quais?

 

– Ah!, que sou capaz de antevisões e sentidos e
de me multiplicar dos sonhos,
como aquilo de te amar tantas vezes quanto
as sardas do teu corpo e
sob a luz do teu olhar severo e doce;

 

e de me enfeitiçar de beijos, os teus e
os exóticos que te dei
em "mares nunca dantes navegados"
e de despertar vulcões ainda virgens
da minha curiosidade
e achar-me feliz porque o êxtase se fez

 

            e eu queria mais, e quero mais...

            e te amo demais; e mais; muito mais.

 

Ela chora outra vez; como antes e quando era novo.
Achei que tinha perdido essa mania de chorar
pelas palavras que lhe escolho
e toco.

 

– Chora comigo; quero beber tua lágrima
de mulher e feliz. Quero a música
ritmada do seu soluço feito como marcação
do meu samba emergente,
do meu tango triste e ansioso e
da minha valsa de alegria e esperança;
e tua voz me soará bolero de voltas
e amor romance.


* * * * * * * * *


Luiz de Aquino, da Academia Goiana de Letras.

5 comentários:

Lígia Ríspoli D´Agostini disse...

Lindo!

Lea Paz disse...

Como sempre seus versos transbordam beleza, poeta. Em tempos tão áridos sua poesia é maná fresco a descer do céu...

Lionizia Goyá disse...

Ter um amor assim. Sem lágrimas enfim. Um amigo poeta. Por fim. Admiração!

Unknown disse...

Luiz, inocentemente olhei para a beleza do Ipê. Parei de olhar, comecei a ler;perdi gostosamente minha inocência. Abraços, meu amigo.

Unknown disse...

Luiz, inocentemente olhei para a beleza do Ipê. Parei de olhar, comecei a ler;perdi gostosamente minha inocência. Abraços, meu amigo.