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sábado, agosto 22, 2020

Antônio Almeida, mestre-livreiro

             Minha fala na Câmara Municipal de Goiânia,
quando da 
concessão do titulo de Cidadão Honorífico a Antônio Almeida, presidente da Editora Kelps, em 24/11/2011 (L.deA.).

 

O artista plástico Malaquias Belo molda a mão de Antônio para um monumento em referência aos 78 anos de Goiânia (outubro de 2011).


O tempo e a teima


O tempo é o mais justo, perfeito e, por isso mesmo, previsível ingrediente de nossas vidas. Ou, talvez, o homem, animal que costumo qualificar como “bicho sapiens”, tenha conseguido medir o tempo com uma exatidão quase que irreparável.


Mas até mesmo no tempo – esse tempo com que se faz a história, não o tempo do sol e das chuvas, do frio e da canícula – esse “bicho sapiens” interfere!


Ao tempo dos nossos pais, o tempo era grande, disponível, preguiçoso... Hoje, mal nos damos conta de como crescem as crianças e como se tornam, muito rapidamente, ágeis operadores da parafernália eletrônica!


Nós, os que passamos dos cinquenta anos, sabemos que a vida mudou muito nas últimas décadas! Vivemos as infâncias sofridas e sem muitos recursos de lazer fabricado, como os brinquedos vários que, a este grande sertão do Planalto Central, demoravam para chegar. Então, restava-nos a criatividade de transformar mangas, chuchus, pontas descartadas dos carpinteiros e até mesmo carretéis vazios em peças de invencionice infantil.


Era um tempo em que as crianças se tornavam mão-de-obra bem cedo, auxiliares dos serviços gerais de pais e mães. Em muitos casos, aquelas crianças viviam somente para repetir as vidas de seus pais e mães; e em uns casos poucos, as crianças sonhadoras, ambiciosas, curiosas e inquietas fugiam da rotina que lhes era imposta, procuravam outras terras e fusos, costumes e falas...


Ah! A história dos homens está cheia de exemplos.


E entre estes há os que sequer precisaram se aventurar em terras distantes, muito estranhas. São os que, num dado momento da vida, escolhem a mudança imediata, geralmente para uma cidade próxima ao seu rincão de origem – quase sempre a capital do  Estado.


Foi o que fez Antônio Almeida. Deixou que os sonhos criassem asas, mas dominou-os de modo a permitir-lhes o voo possível, sempre. A migração foi de curta monta – de Palmeiras de Goiás para Goiânia. O tempo, esse forte elemento de todas as vidas, exigiu trabalho; muito trabalho. E o crescimento aconteceu de modo especial, as providências exigindo pressa.


A atividade profissional sempre foi intensa para o presidente da Editora 
Kelps e a porta de sua sala nunca foi fechada durante o expediente.


Família grande, de muitos irmãos; os pais regendo a vida de modo a não permitir a dispersão “dos meninos”; o empenho pela sobrevivência mas, também, a garra, a determinação: sobreviver era pouco; crescer se fazia indispensável!


A pequena Gráfica Pirâmide, realizando trabalhos de encomenda como cartões e “santinhos” de candidatos, ou panfletos e notas fiscais, um dia atreveu-se a publicar livros. E já se vão quase trinta anos desde aquela remota aventura – o livro Travessia de Gente Grande, do poeta Ademir Hamu; em seguida, aconteceu o meu De Mãos Dadas com a Lua. E de lá para cá, centenas, milhares de novos títulos, colocando Goiânia como uma das cidades onde mais se publicam livros.


A hoje Editora Kelps é uma referência nacional, com repercussão em vários pontos do mundo.


E isso, analisando agora, porque um dia o jovem Antônio Almeida – que a gente prefere chamar de Antônio da Kelps – sonhou que devia crescer.


Cresceu e, com ele, cresceram também os  irmãos, porque seus pais nunca permitiram que se soltassem das mãos uns dos outros; cresceu, cresceram e ajudaram incontáveis escribas – sejam eles ensaístas, ficcionistas ou poetas – a crescerem juntos.


É assim, meu caríssimo Antônio Almeida, que te vejo esta noite: o dono dos sonhos que voaram em bando, uma revoada de sonhos vários. Hoje, Antônio, Goiânia lhe traz o gesto de gratidão, o diploma da cidadania honorífica, que a Câmara lhe outorga e que, se fosse possível, traria as assinaturas de todos os editados pela sua... ou melhor, a nossa Editora Kelps.


Deus te guarde!

 


* * * * * * * * *

Luiz de Aquino, da Academia Goiana de Letras

 

9 comentários:

edluiz disse...

Bela homenagem. Que ele esteja em paz.

Maria Helena Chein disse...

Maria Helena Chein disse...

Belo discurso para o querido homem dos livros! Você traçou o objetivo de sua fala e, com sua escrita única, testemunhou a vida e os sonhos do homenageado, hoje, no recanto bem próximo de Deus. Você sabe que gosto demais de suas crônicas!

Adelia Maria Batista disse...

Que beleza de homenagem.

Rosy Cardoso disse...

Muito bom poeta você em todos momentos tece um texto forte e
Belo em sua descrição. Este sim foi pra um homem forte para a história de cumprir sonhos - publicar.

Unknown disse...

Belo discurso. Parabéns Luiz!

Lyzbheth disse...

Uma bela homenagem!

ROSAMÁBILE IN CONCERT disse...

Luis que homenagem linda e ricas merecida.Abs forte com a admiração constante da sua extrema sensibilidade

Mara Narciso disse...

Ninguém poderá arrancar de Antonio da Kelps esse feito. Nem mesmo a morte. Quanta delicadeza nessa homenagem, Luiz, e em especial , a reedição dela.

Rose Mendes disse...

Bela homenagem! Merecida. Esteja em paz Antônio da Kelps, fará falta.