Minha fala na Câmara Municipal de Goiânia,
quando da concessão do titulo de Cidadão Honorífico a Antônio Almeida, presidente da Editora Kelps, em 24/11/2011 (L.deA.).
O artista plástico Malaquias Belo molda a mão de Antônio para um monumento em referência aos 78 anos de Goiânia (outubro de 2011).
O tempo e a teima
O tempo é o mais justo, perfeito e, por isso
mesmo, previsível ingrediente de nossas vidas. Ou, talvez, o homem, animal que
costumo qualificar como “bicho sapiens”, tenha conseguido medir o tempo com uma
exatidão quase que irreparável.
Mas até mesmo no tempo – esse tempo com que se
faz a história, não o tempo do sol e das chuvas, do frio e da canícula – esse
“bicho sapiens” interfere!
Ao tempo dos nossos pais, o tempo era grande,
disponível, preguiçoso... Hoje, mal nos damos conta de como crescem as crianças
e como se tornam, muito rapidamente, ágeis operadores da parafernália
eletrônica!
Nós, os que passamos dos cinquenta anos,
sabemos que a vida mudou muito nas últimas décadas! Vivemos as infâncias
sofridas e sem muitos recursos de lazer fabricado, como os brinquedos vários
que, a este grande sertão do Planalto Central, demoravam para chegar. Então,
restava-nos a criatividade de transformar mangas, chuchus, pontas descartadas
dos carpinteiros e até mesmo carretéis vazios em peças de invencionice
infantil.
Era um tempo em que as crianças se tornavam
mão-de-obra bem cedo, auxiliares dos serviços gerais de pais e mães. Em muitos
casos, aquelas crianças viviam somente para repetir as vidas de seus pais e
mães; e em uns casos poucos, as crianças sonhadoras, ambiciosas, curiosas e
inquietas fugiam da rotina que lhes era imposta, procuravam outras terras e
fusos, costumes e falas...
Ah! A história dos homens está cheia de
exemplos.
E entre estes há os que sequer precisaram se
aventurar em terras distantes, muito estranhas. São os que, num dado momento da
vida, escolhem a mudança imediata, geralmente para uma cidade próxima ao seu
rincão de origem – quase sempre a capital do
Estado.
Foi o que fez Antônio Almeida. Deixou que os
sonhos criassem asas, mas dominou-os de modo a permitir-lhes o voo possível,
sempre. A migração foi de curta monta – de Palmeiras de Goiás para Goiânia. O
tempo, esse forte elemento de todas as vidas, exigiu trabalho; muito trabalho.
E o crescimento aconteceu de modo especial, as providências exigindo pressa.
A atividade profissional sempre foi intensa para o presidente da Editora
Kelps e a porta de sua sala nunca foi fechada durante o expediente.
Família grande, de muitos irmãos; os pais
regendo a vida de modo a não permitir a dispersão “dos meninos”; o empenho pela
sobrevivência mas, também, a garra, a determinação: sobreviver era pouco;
crescer se fazia indispensável!
A pequena Gráfica Pirâmide, realizando
trabalhos de encomenda como cartões e “santinhos” de candidatos, ou panfletos e
notas fiscais, um dia atreveu-se a publicar livros. E já se vão quase trinta
anos desde aquela remota aventura – o livro Travessia de Gente Grande, do poeta
Ademir Hamu; em seguida, aconteceu o meu De Mãos Dadas com a Lua. E de lá para
cá, centenas, milhares de novos títulos, colocando Goiânia como uma das cidades
onde mais se publicam livros.
A hoje Editora Kelps é uma referência nacional,
com repercussão em vários pontos do mundo.
E isso, analisando agora, porque um dia o jovem
Antônio Almeida – que a gente prefere chamar de Antônio da Kelps – sonhou que
devia crescer.
Cresceu e, com ele, cresceram também os irmãos, porque seus pais nunca permitiram que
se soltassem das mãos uns dos outros; cresceu, cresceram e ajudaram incontáveis
escribas – sejam eles ensaístas, ficcionistas ou poetas – a crescerem juntos.
É assim, meu caríssimo Antônio Almeida, que te
vejo esta noite: o dono dos sonhos que voaram em bando, uma revoada de sonhos
vários. Hoje, Antônio, Goiânia lhe traz o gesto de gratidão, o diploma da
cidadania honorífica, que a Câmara lhe outorga e que, se fosse possível, traria
as assinaturas de todos os editados pela sua... ou melhor, a nossa Editora
Kelps.
Deus te guarde!

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Luiz de Aquino, da Academia Goiana de Letras