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quarta-feira, maio 26, 2021

Lembrando Sampa

 


Lembrando Sampa

 

Mar de luzes. E o voo se alonga
em amplos círculos.
Chão de renda de luzes azuis.
Linhas longas de amarelo-ouro,
arabescos de luzes se a orogênese assim impôs
ao traçado das ruas.

No alto do Jaraguá, vaga-lumes de antenados sinais
de visuais e sons.

No chão, o cinza do dia, o cinza do céu, o cinza
de argamassa e concreto
e dureza eterna de infindáveis esquinas.
Que só de esquinas e altipisos
se faz a cidade
e de elevadas vias no emaranhado de edifícios.

Milhões de janelas a vislumbrar paisagens
de incontáveis outras também janelas.

Sopra um vento de elevar fumaça
mas não desfaz o teto cinza.
Nas ruas, passadas seguras de destinos certos
de um futuro de dúvidas neoliberais.
Os rostos são caras de todo um mundo
e a língua tem o acento dos sobrenomes
itálicos, nipônicos, hebraicos,
polacos, hispânicos, iônicos,
satânicos, irônicos...


        No Planalto, meu canto em ritmo
        de catira
        arremata as prosas rápidas.
        

E recomponho o verso
na lentidão sertaneja,
na saudade goiana.

*   *   *

Poeta Luiz de Aquino

4 comentários:

Lídia Afonso disse...

Gostei muito das suas memórias na descrição da grande São Paulo e também do cantinho goiano onde fez esse belo poema.

Adriano Curado disse...

Muito bom. Você descreveu exatamente como me senti quando cheguei a São Paulo pela primeira vez. Fiquei nesse mesmo deslumbramento. Eu me perguntava o tempo todo como as pessoas conseguiam se orientar para voltar para casa entremeio ao labirinto de prédios. Também não sabia que existia tanta gente no mundo! Meus parabéns, Luiz. Você é um grande poeta.

Maria Helena Chein disse...

“Lembrando Sampa”
Suas lembranças entranharam-se nos versos que descrevem o alumbramento e as reflexões que Sampa propicia. Belo poema criado à luz de suas memórias!

Sônia Elizabeth disse...

Lembrar de Sampa. Amar Goiás.