Poema de reencontrar M. A.
& & &
Poema de reencontrar M. A.
& & &
Ambíguo
Ambíguo
um bi-
go.
Tentando entender
o ser
humano:
entende
não
desiste.
Bel
* * * * *
Poeta Luiz de Aquino. Da Academia Goiana de Letras.
AMAR EM SI
Se houver silêncio,
haja o toque de olhares
à busca do mágico e das cores;
e o calor das mãos
a explorar a pele e esta,
imóvel, acolha a carícia
e reaja em arrepio.
Luiz de Aquino, poeta. Da Academia Goiana de Letras.
Chego assim,
em silêncio e ternura,
feito um anjo.
Trago de mim
azul plácido de lago
e ar de candura.
Eriço-te a pele,
beijo-te a boca
com sede.
Esqueço a viagem
e instalo-me aí
onde me esperas.
Anis
Brilho
azul de estrela tatuada,
réplica maior da que te orna
a pele, ao alto.
Sensuais
desenhos
de sensível pena,
fere a derme, tinge o sonho
em
azul de céu:
estímulo à alegria,
encanto ao poeta...
Almíscares
Em luz de olhar um verso
irreversível
de amor e âmago apanha-me.
Deixo-me solto e aceito
o laço que abraça-me
e, terno, prende-me.
E há lábios de carmim e calor,
atentado fatal e sonhado:
beijam-me e me embriago deles.
Moreninha
Morena jambete chocolate,
cuia dourada, índia nativa,
brasiliana!
Olho essa moça como quem apenas vislumbra
a obra. Mas não é estátua, não é pintura:
move-se!
Mexe-se em falas e olhares,
gestos nobres de quem fala e, falando,
sabe!
Cravo, sapoti, doce trufa, noturna
no olhar de mistério e feitiço.
Prende-me!
![]() |
Menina com passarinho - Dinéia Dutra (capa de meu livro Menina dos Olhos, 1987) |
* * * * *
Poeta Luiz de Aquino, da Academia Goiana de Letras.
A Musa dorme, acorda poeta
Rosa deitou ao chão uma toalha rosa
e no vão das peças do piso
vi uma rosa em tons de rosa.
Aos olhos de quem é luz e mar
apenas o tecido absorvente aparecia
e era o mero tecido rosa.
Não era a Musa, mas a executiva. Não era
momento de olhar a rosa sobre o solo
frio e concreto, sem alma.
Então a Musa adormecida e calma
despertou a cor da alma.
E a Musa se fez poeta.
* * * * *
Poeta Luiz de Aquino, da Academia Goiana de Letras.
Preferência
Gosto de você. Mais do que viajar
de nuvem. Viajar de nuvem é fácil,
qualquer poeta de redondilha
voa fácil, feliz.
Eu, não: só me sinto feliz
se na minha nuvem preferida
está você, copiloto e parceira
de vida inteira.
* * * * *
Luiz de Aquino, prosador e poeta, da Academia Goiana de Letras.
Ponho um carinho
nesse seu céu
de sorriso e bonança.
Deixo descer
do azul e das nuvens a chuva
que lhe dá carícias.
Pouso meu beijo,
silêncio e tesão,
na sua boca de pétalas.
Luiz de Aquino, poeta e prosador, da Academia Goiana de Letras.
Há essas
e
Essas
Ganham
fazem
Delicadas, macias,
nervosas e tensas.
Aconchegam-me o
tocam-me o
Aquecem-me a
os
e inquieto.
rítmicas e precisas:
conduzem-me ao
E convidam-me
à
no
Acendeu-me o
Queira,
o
e os
Sonhei
Beijava
E
−
no
Sonhei-nos
dos lençóis, a
* * *
Fiz
nas
Sonhei
de
* * *
Solta-te,
de
Quero-te
de
Fiz
na
e os
na
nas
nas
de
na
Cantar é tão longe
como o encontro efêmero
num verso travesso
acontecido infeliz.
Cantar é tão doce
como o encontro esperado
e demorado
num pentagrama, dois por dois.
Cantar é a clave
de sol crescente
em fundo de lua
cheia de amor
perfeito pra nós.
Cantar é te ver
cantando esperanças
para os meus sentidos.
* * * * * *
Poeta Luiz de Aquino, da Academia Goiana de Letras.
Esperar Virgínia
Pele e palavra — lavra fluente
em conceitos, sementes de dor
e quimera.
Mergulhei nos teus olhos
minha sonda de sonhos,
naveguei madrugadas.
Houve um
tempo— que efêmero! —
de fundirmos o néctar das salivas
ao mastigarmos o mesmo
morango.
...telefone, além do tempo,
a emendar noite e madrugada.
Quanto plano de esperar
Virgínia!
(Tens isso tudo
Loba, mulher
Há qualquer coisa
parecida
com o descobrir-se,
qualquer coisa como
um sol que se faz outra vez
no mesmo céu.
Há um velho nascer,
não nos meus olhos, mas
em mim – (de todo)
como se fosse eu o monte
sobre o qual lua e dia
revezam-se no que se diz
novo.
Sou eu, feito nova,
desabrochando em mim
ainda que Loba!
* * * * *
Luiz de Aquino, poeta, da Academia Goiana de Letras.
![]() |
Imagem: Inernet |
VIDA DE ENSINO E CERTEZA
Vida
feliz, esta
de quem acorda cedo, apressa-se
a correr, alcançar o ônibus,
pedalar ladeira acima, correr
ladeira abaixo, sob sol ou chuva,
pular o bueiro, o córrego, a cerca
escapar do cachorro...
Vida
feliz, esta,
a de quem já fazia tudo isso
por décadas quando aluno,
pertinaz andante, teimoso estudante
sob o sol ou a chuva, à lua ou à luz
das lâmpadas eventuais das ruas
teimosamente desassistidas.
Sempre
os mesmos desafios,
a luta pela comida, a roupa pouca,
o preço do gás, o custo do passe,
as horas perdidas, viagens de pé,
caminhar constante, o rumo correto,
chegar à escola, ler e ouvir; o rumo
correto é destino, futuro!
Diploma
na mão, os sonhos no peito,
os sonhos na mente, pré-ensino,
pós-graduação, salários menores
que a mínima carência. As metas
deixadas p’ra além, o amanhã,
amanhã de incertas, de dúvidas
e dívidas, e salários minguados.
Amanhã,
as ruas de jovens,
moços entusiastas, profissões
em profusão, novos sonhos
a realimentar futuro, futuros!
No peito, a alegria que brota nos olhos
de velhos mestres ensinantes:
“Meu aluno! Minha aluna!” – repetem...
Os
olhos dos moços percebem
no velho sorriso um ricto talvez
familiar ou esquecido. Passado?
Para quê, o passado? E vão-se eles,
os moços que sonham. Empreendedores,
acadêmicos, sonhadores de novos rumos,
O ensino, não; rende pouco...
E o
velho sorriso na boca do mestre, na face
da mestra teima em ficar; que pena, pensa,
que aquela criança agora barbada, agora
maquiada, perdeu as lembranças. Ainda assim
o sorriso é comum no mestre, na mestra.
Ninguém lhe toma a alegria vivida.
A missão, afinal, foi cumprida.
De pastor
Sete dias na semana
sete cores no arco-íris,
sete vezes eu te amei,
sete vezes te perdi.
Se te peço que me voltes
faço um voto de franqueza:
sete vezes vou jurar
ser só teu a vida inteira.
Num momento, sete instantes,
vinte e uma noite dessas,
fiz voltar meu sentimento.
Vi teus olhos, vi teus beijos,
quis nascer, não consegui.
Vou te amar mais sete vezes.
Rumo só
Arde o coração,
a voz se faz em vibrato,
eriçam-me os pêlos
e os olhos brilham mais.
O corpo inteiro se agita
transmudado:
é o desejo.
Aí,
é lembrar você,
porque não tenho
outro interesse,
outro endereço,
outro adereço.
![]() |
Ilustração de Roos. para o livro Isso de Nós (1990). |
O GOZO QUE TE CALA
É de ver como dói
esperar por teus passos
no corredor.
É de ver a esperança
de teu rosto sorrindo
à porta entreaberta
até desfazer-se
no beijo sonhado.
Cada peça de roupa
caindo silente
é pedaço das almas
gêmeas
que alimentam desejos
insatisfeitos
até que encontremos
no suor comum
orgasmos retidos
de todos os dias
do até agora.
É de ver como gosto
de gostar do gozo
que te cala o pranto.
![]() |
Pág. 79 de meu livro De mãos dadas com a Lua, 1984. |
Madrugada derradeira
O sino
que canta,
a garrafa que cai,
o corpo que dança
e a noite se esvai.
Na rua
não cabe
a angústia dos dias.
Os passos são fracos,
não há mais destino.
Por mais
que se espere
não haverá desta vez
uma luz no final
da madrugada.
![]() |
Ilustração: Dinéia Dutra, 1984. |
* * * * * *
Luiz de Aquino, autor de prosa e poesia. Da Academia Goiana de Letras.
O tempero dela
e há de ser o tempero dos meus dias
para sempre.
Nascemos adultos numa noite aí
entre sons
e vivemos amores entre problemas
até nos sentirmos
vencidos por nós mesmos.
Faltam coisas
para a nossa igualdade
como o bife
acebolado com o tempero dela,
“a marca do amor nos nossos lençóis” (*)
e minha presença
no cotidiano.
Mas
somos únicos
na intimidade que deixamos existir
em justificativas
nos nossos passados tão distantes
e somos iguais
na plenitude do amor maduro
de agora.