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domingo, novembro 29, 2020

Consolo

 


Consolo

  

Sem que me esforce por isto
e sem querer que aconteça,
o pranto me sobe aos olhos
deixando conforto no poço do peito.


Arranco com os olhos
a mágoa e o medo,
a dor e o enfado
que crescem depressa
como os vergéis
sob as águas de setembro.

 

Estas lágrimas
temperam-me a voz e jogam pra fora
o gosto amargoso de tantos fracassos.
Estas lágrimas
passeiam na pele como o resquício
das sensações que me assustam.

 

            Decerto me fazem
            menos tristonho,
            aliviam tensões.

 

Sem que me esforce por isto
às vezes choro à mera menção
de uma frase
ou ao gesto de afeto —
que toca os cabelos e amacia-me os sonhos.

 

Vem daí uma paz e, sem que eu queira,
nascem de novo
as lágrimas de sempre,
quando me sinto bem,
porque te sei próxima
e tão invadida
de mim.


*&* 

 

Luiz de Aquino, poeta, da Academia Goiana de Letras.

3 comentários:

Vânia Bávaro disse...

"Arranco com os olhos
a mágoa e o medo,
a dor e o enfado
que crescem depressa
como os vergéis
sob as águas de setembro".

Eu, particularmente, acho muito bom poder extravasar esses sentimentos com o choro...

Carmem Gomes disse...

Benditos sejam os que podem chorar de alegria,de tristeza, de emoção, por decepção. Sempre estarão mais vivos do que aqueles que não conseguem chorar.

Unknown disse...

Muito bonito.Sentimentos represados que extravasam.