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quinta-feira, novembro 26, 2020

Rendição

 


Rendição

 

Eu te vejo daqui
olhando fundo pelas lentes bifocais
que a idade exigiu
e concluo tristonho
pela total incompatibilidade
de gênios.
De repente, é um tal de tentar
descobrir novidades
num passado
que me turva a mente
e sugere tristezas.

 

Eu te vejo daqui
e sinto teu cheiro na ponta dos dedos
que te acariciaram (há pouco).
Então me descubro surpreso
por não estremecer
como acontecia antes,
quando te via nas ruas, nos bares...

 

Ah, querida,
que pena que os dias
transformaram meus olhos
que te olhavam bonito!

 

Agora,
é render-se no tempo
ante a força presente
do passado
que insiste em ressurgir.


* * *


Luiz de Aquino, da Academia Goiana de Letras.

5 comentários:

Mara Narciso disse...

Suaves nostalgia e entristecimento. Ah, quanta saudade!

Fátima Sousa disse...

Muito lindo...uma pena que tudo se desfaz, tudo se acaba e se transforma!!

Rosy Cardoso disse...

Eeetaaahhh poeta assim a saudade treme ... e o poema ressurge as imagens vivas.

Rosilda Nunes disse...

👏👏👏👏👏👏 reli pela terceira vez. Rendição traz uma diferença significativa no jogo de palavras. Tempo cronológico e psicológico se entrelaçam. O físico e o imaginário faz-se presente no decorrer do poema...
A sintonia harmoniosa entre o passado e o presente torna o poema real . Nota-se a beleza da reflexão interna, jogando signos e significados como parte desse todo . Profundo, como Ferreira Gullar.

Maria Helena Chein disse...

Rendição
O título não poderia ser outro. Nele, está a essência do poema. Há uma nostalgia no poeta, que o empurra para trás. Ele sabe, que o passado só existe, porque há o presente. Isso é vida vivida.