Rendição
Eu te
vejo daqui 
olhando fundo pelas lentes bifocais 
que a idade exigiu 
e concluo tristonho 
pela total incompatibilidade 
de gênios. 
De repente, é um tal de tentar 
descobrir novidades 
num passado 
que me turva a mente 
e sugere tristezas.
Eu te
vejo daqui 
e sinto teu cheiro na ponta dos dedos 
que te acariciaram (há pouco). 
Então me descubro surpreso 
por não estremecer 
como acontecia antes, 
quando te via nas ruas, nos bares...
Ah,
querida, 
que pena que os dias 
transformaram meus olhos 
que te olhavam bonito!
Agora, 
é render-se no tempo 
ante a força presente 
do passado 
que insiste em ressurgir.
* * *

 
 
5 comentários:
Suaves nostalgia e entristecimento. Ah, quanta saudade!
Muito lindo...uma pena que tudo se desfaz, tudo se acaba e se transforma!!
Eeetaaahhh poeta assim a saudade treme ... e o poema ressurge as imagens vivas.
👏👏👏👏👏👏 reli pela terceira vez. Rendição traz uma diferença significativa no jogo de palavras. Tempo cronológico e psicológico se entrelaçam. O físico e o imaginário faz-se presente no decorrer do poema...
A sintonia harmoniosa entre o passado e o presente torna o poema real . Nota-se a beleza da reflexão interna, jogando signos e significados como parte desse todo . Profundo, como Ferreira Gullar.
Rendição
O título não poderia ser outro. Nele, está a essência do poema. Há uma nostalgia no poeta, que o empurra para trás. Ele sabe, que o passado só existe, porque há o presente. Isso é vida vivida.
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