Páginas

sábado, janeiro 30, 2021

Será nuvem?

 

Será nuvem, será?

 


 – É que aprendi, não se deve gastar munição à toa ou como, dizem os desse meio, com alvo ruim. Você é alvo ruim. É como atirar em nuvem. As nuvens são frias e amorfas.

– Será?

– Uma bala abala-lhes moléculas ou cristais de vapor d'água, apenas, e sequer lhes afetam as formas, porque as nuvens têm qualquer forma. E para mim – especialmente para mim – você virou nuvem. Bonito de se ver e tanto mais bonita quando mais distante. Frias na intimidade, perigosas quando resolvem agir.

– Que analogia, hein.

– Já notou o quanto elas (as nuvens) nos parecem carinhosas? Não dá vontade de ser abraçado, acolhido por elas?

 Nas horas em que lhe olho os olhos brilho-me de luz, a sua luz. Quando feliz, tem um tom de mel, castanho claro a sugerir doçura. Se nervosa, lembra o verde de mar raso, translúcido – mas de mistérios indecifráveis. E há os tons de nuvens...

– Nuvens?

–Sim, as nuvens... aquelas que aparecem em tempos de céu azul, azul demais, são claras e muitas, feito manada de nelore. Mas não se unem, espalham-se no céu e são chatas, como se postas sobre um tampo vítreo, incolor e plano em mesmo nível. E há Estratos – aquelas que lembram escumilha, filó...

– E as de chuva!

– Terríveis! Assustadoras, essas. São as de tom escuro, cinza e chumbo, trágicas e indevassáveis. Feito os olhos de Stela: taciturnas, casmurras, sorumbáticas e tristes.

* * *

Luiz de Aquino, poeta. Da Academia Goiana de Letras.


2 comentários:

Sinésio Dioliveira disse...

E há também as nuvens que viram bicho. Na minha infância, eu deitava de barrica pra cima el algum lugar possível e me ponha a procurar bichos no céu. Ainda faço isso, mas sem me deitar no chão.

Sônia Elizabeth disse...

Nuvens, ainda que alvas, leves, feito algodão, sao misteriosas, surpreendentes.