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domingo, janeiro 31, 2021

Bela sem espera


Bela sem espera

 

Viver exige, viver cansa; viver 
é driblar desafios; procurar vantagens 
e vitórias. Vitórias?

 

Terminar o ano sem contas vencidas,
passar de ano, viajar
no Ano-Novo e no Carnaval,
mudar o sobrenome, ter filhos,
posar de madame
e sentir-se amada, protegida.

 

O doce vira fel se não se é
protegida ou amada.
O céu se faz roxo, verde musgo, grená.
A música vira martírio.
Nada do que é ou nos foi belo
interessa mais.


Palavras são punhais. 
E vem a dor do infortúnio, questões acerca 
do que vale a pena.

 

Um amor marido que não se tem por seu.
Um filho que se divide
e a outra – a outra que posa
vitoriosa.

 

E eu-mesma, que me sei
dispensada. Não amada,
mas esquecida. Não mais "meu bem",
mas um estorvo.

 

Cansa!


* * *

Poeta Luiz de Aquino, da Academia Goiana de Letras.


5 comentários:

Antonio C. Neto disse...

Gostei do poema como gosto de tudo que vc escreve, poeta. Adorei a alma feminina a lá Chico Buarque que eu também adoro.
Lindo o poema. Linda a sua alma de poeta.

Gugu disse...

A vida tal como é: um desafio ou estranha quimera? O menestrel se diverte mesmo na angústia da incerteza.

Adélia Freitas disse...

Muito bom!!!

Zanilda Freitas disse...

Nunca imaginei que um "desenlace" daria um poema tão bom e realista.

Sônia Elizabeth disse...

Um desafio: dar ao outro(a) a nossa voz.