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terça-feira, janeiro 05, 2021

Entrevista a Ariadne Lima

Falando de jornalismo e literatura

Entrevista concedita em agosto de 2005 à jornalista Ariadne Lima (*)

de Belo Horizonte


1. Atualmente, onde mora? Goiânia?

Luiz de Aquino - Sim, moro em Goiânia. Nasci em Caldas Novas (15/09/45); em março de 1956, mudei-me para o Rio, fui morar com minha avó materna (Vó Ignez), em Marechal Hermes; concluí o primário e ingressei no Colégio Pedro II; em julho de 1963, voltei ao Planalto Central e, desde então, estou em Goiânia.

2. Desde quando é membro da Academia Goiana de Letras?

L.deA. – Fui empossado em março de 1997.

3. De quais outras instituições literárias ou jornalísticas faz parte?

L.deA. – Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Goiás; Associação Goiana de Imprensa; União Brasileira de Escritores (UBE) -Goiás (fui presidente no biênio 96/98; estou desligado desde o começo do segundo mandato da atual presidente); UBE-Rio; UBE-Paraná (fui membro-fundador, mas a entidade está adormecida); Casa do Poeta do Rio Grande do Sul; Sindicado dos Escritores do Rio de Janeiro; Academia de Letras e Artes de Caldas Novas (membro fundador); Academia Pirenopolina de Letras, Artes e Música (membro fundador e ex-presidente); Academia Piracanjubense de Letras e Artes (membro correspondente); Lavourartes (instituição recém criada em Goiânia; neste sábado, 13 de agosto, discutimos o anteprojeto dos estatutos).


4. Já recebeu prêmios? Qual(is)?

L.deA. – Sim, recebi alguns, entre eles o prêmio Cora Coralina em prosa (edição e prêmio em dinheiro), em 2001, pelo meu livro de contos A noite dormiu mais cedo. Não é hábito meu participar de concursos.


5. Você se considera um “jornalista escritor” ou um “escritor jornalista”?

L.deA. – Olha, já me disseram que, entre os “jornalistas escritores” ou “escritores jornalistas”, em Goiás, sou o único que desenvolveu ambos os ofícios no mesmo passo. Os demais companheiros ficaram conhecidos ou como escritores que trabalham em jornal ou jornalistas que escrevem livros. Sob essa ótica, fui ambos; agora, tenho sido muito mais escritor, pois há três anos que me limito, em termos de jornais, a produzir crônicas.


6. O que surgiu primeiro em sua vida? Jornalismo ou Literatura? Se possível, cite datas.

L.deA. – Literatura. Dos trabalhos escolares e cartas aos pais (lembre-se que eu morei fora de casa e, dos 10 aos 15 anos, só me comunicava com meus pais por cartas), passei aos poemas. Meu primeiro texto em prosa para jornal se deu em 1967, em Anápolis. Desde então, passei a ser colaborador de jornais, pois exerci funções de assessoria de imprensa no Banco do Estado de Goiás e na Telegoiás, antes de me empregar efetivamente em um periódico (foi no Jornal Opção, que era diário, em 1979, e comecei como redator na editoria de política, que é onde todo mundo queria chegar). Desde então, tudo andou junto, pois, em 1978, saiu meu primeiro livro de contos – O Cerco.


7. No caso específico da literatura, como e porque ela entrou na sua vida?

L.deA. – Minha mãe lia muito. Minhas lembranças dela, quando fui morar com minha avó, eram sempre nesses ambientes: a cozinha, o quintal onde criava galinhas e nós brincávamos e a cama onde, por algumas horas, lia à tarde. E minhas dissertações e descrições, no ginásio, eram sempre alvo de apreciação mais demorada pela professora Maria Helena Silveira. E a poesia, atrevi-me a escrever aos 15 anos, na quarta série ginasial (nono ano, hoje).


8. Na sua opinião, por que é tão comum encontrarmos jornalistas que acabam
ingressando na literatura?

L.deA. – Suponho que boa parte dos jornalistas escolhe a profissão justamente por ser a que mais se aproxima da literatura (um detalhe: jornalistas que qualifico como “de meio alfabeto” têm ojeriza aos que trazem consigo pendores literários; isso é ruim). A diferença fundamental entre os escribas de jornal e os de literatura está na capacidade ficcional. Veja que são muitos os “jornalistas escritores” que só escrevem livros jornalísticos, biografias e fundamentos para a História − estes não são ficcionistas, mas são escritores; e se têm “molho”, isto é, se são dotados de (como diz Brasigóis Felício) ”magia”, farão literatura seja em livro, seja em texto de notícia.


9. Por favor, você pode fazer um breve currículo de sua carreira jornalística, citando as empresas pelas quais passou e as funções que já desempenhou? Atualmente, atua em algum veículo de comunicação? Qual veículo e qual função?

L.deA. – Alguma coisa já adiantei: as assessorias de imprensa, no BEG e na Telegoiás; depois, o Jornal Opção (em sua fase diária), o Cinco de Março (semanário), Diário da Manhã e Folha de Goiás (diários), O Estado de Goiás, Gazeta de Goiás, O Sucesso ((semanários) e várias revistas de duração efêmera. Nesses veículos, fui repórter, repórter fotográfico, redator, subeditor, editor setorial, editor executivo e editor geral. Em algumas ocasiões, fiz colunas sobre a cidade; noutras, cultura (literatura e artes). Uma das fases mais marcantes foi por um período de aproximadamente cinco anos em que atuei nas reportagens policiais. Colhi muita informação para o meu aprimoramento pessoal no convívio com tão variados tipos de pessoas (sou formado em Geografia e tenho muita facilidade para entender os processos sociais).

Atualmente, produzo duas crônicas por semana para o Diário da Manhã (segundas e quarta-feiras, e o endereço do jornal é www.dm.com.br). Este é um exercício que me dá muito bem o significado do jornalismo literário.

(Ressalva: atualmente, fevereiro de 2008, escrevo uma crônica para o DM, aos domingos. L.deA.)


10. Como é o ritmo da sua produção literária? (Contínuo, você estabelece rotina para isso, ou é aleatório, baseado na inspiração?).

L.deA. –Não uso agenda e não sou escravo de horários. Posso passar muitas e muitas horas ao teclado do computador − mas nunca tive LER, ou DORT. Eu me organizo ao meu modo, isto é, crio mentalmente o fluxo dos meus textos. E não sofro por isso, ou para isso. Posso armazenar textos inteiros ou frases soltas. Certa vez, guardei na memória um verso, sabia que, algum dia, ele comporia um poema; e o poema saiu dez anos depois de esse verso ser concebido.
Escrevo por inspiração, mas escrevo muito mais porque é preciso. Nunca atrasei as máquinas nem compliquei meu editor com atrasos. E tanto posso sintetizar um texto, se o espaço for mínimo, ou esticá-lo o bastante para atender a edição (ou editoração). E isso não é falsear nada: por exemplo, dizer que “numa operação digna de cinema, ladrões roubaram mais de 150 milhões de reais do Banco Central, em Fortaleza”; fizemos a tira de rodapé para o GloboNews ou a BandNews; mas se há uma página de jornal a se fazer, recorremos às fotos e aos textos, contaremos do túnel, da engenharia que resultou na perfuração do piso de concreto, dos meios usados para se tirar de lá tantas notas, etc.


11. Qual foi seu último livro? Quando foi lançado? Fale-me a respeito, por favor.

L.deA. – Bem, a minha mais recente festa literária foi em outubro de 2003. Festejei o jubileu de prata de O Cerco, lançando o livro em segunda edição; e lancei, na mesma noite, um novo livro de poemas – Sarau. Mas o último (e sempre no sentido de “derradeiro”) está em fase de gestação. Trata-se de As uvas, teus mamilos tenros – um livro de poemas eróticos, a ser publicado em dois idiomas – português e francês. E justamente hoje, faço a seleção e a montagem de mais um livro de poemas cujo título ainda não concebi (é que essa produção resulta em duas linhas de poemas e, ao separá-los, pois, estou produzindo dois novos livros; um deles virá a lume ainda este ano e o outro aguardará momento próprio).

(Esse livro foi lançado em novembro de 2005. L.deA).


12. Você tem previsão de quando sairá um próximo livro? Pode me falar a respeito dele?

L.deA. – Pois é, ao que tudo indica esse livro será lançado em outubro, na semana do aniversário de Goiânia (a data máxima da cidade é 24 de Outubro, dia em que se deu, em 1933, o lançamento da Pedra Fundamental da cidade; Goiânia “descende” de Belo Horizonte e, por sua vez, serviu de exemplo para que o presidente Juscelino Kubitscheck − um “goianeiro” − se atrevesse a construir Brasília (digo que JK é “goianeiro” porque, nascido em Minas, foi um dos mais importantes cidadãos de Goiás; sim, de Goiás! Ele foi senador pelo meu Estado).
Esse novo livro, de poemas, terá − pelo que agora estou sentindo dele − as minhas marcas (inevitavelmente): são poemas com pitadas de amor, farinha de erotismo e cobertura de sensualidade, com confeitos de breve humor. Acho que não trará nada de novo, não sei...


13. Em algum momento, você sentiu que as técnicas jornalísticas influenciaram negativamente sua inspiração artística?

L.deA. – Veja que coisa linda: disseram-me (eu não li isso) que Ernest Heminguay dizia não ser “verdade que o repórter mata o escritor em nós, desde que abandonemos o jornalismo antes que isso aconteça” − a frase seria mais ou menos assim. Eu diria que o jornalismo não estremeceu minha vocação literária. Ou a poética, ao menos. Trabalhava entre dez e 14 horas por dia, levantando matérias, fotografando, revelando, escrevendo, editando (houve uma época, o jornal em sua pior crise, em que eu era, sozinho, uma equipe: dirigia o carro, fotografava, redigia e editava) e, à noite, fazia poemas. Por outro lado, os fatos jornalísticos, vistos pela ótica minuciosa do repórter, tornam-se notícias, sim; mas a edição reduz tudo o que a gente sabe a um recado ao leitor. Então, aquela coisa − muita coisa − que não publicamos acabará virando literatura, pois virá a ser fato de nossos contos, poemas e romances.

14. Jornalismo e literatura trabalham com a mesma matéria-prima: a palavra. Sendo assim, na sua opinião, técnicas jornalísticas podem beneficiar a literatura e/ou vice-versa? Como?

L.deA. – Eu acho, Ariadne, que respondi isso na pergunta anterior. Acho, sim. Concordo plenamente e atrevo-me a dizer − como digo sempre que falo a estudantes, especialmente estudantes de jornalismo − que qualquer repórter, de qualquer área, pode redigir com espírito literário. O bom senso lhe dará o limite, que é tênue. Assisti, ontem, à colação de grau de novos colegas; em seu convite, uma frase bonita: “Sabe quando descobri que queria ser jornalista? Quando perguntei pela primeira vez à minha mãe: por quê?”. Mas permito-me discordar. Aprendi, e era moço ainda, que um repórter deve perguntar “como, quando, onde, quem?”, mas deve evitar perguntar “por quê?”, pois, a partir daí, ele deu o primeiro passo na literatura.

15. Em algum momento da sua carreira, jornalística ou literária, você se permitiu entremear os gêneros?

L.deA. – Acho que sempre. Meu primeiro livro, O Cerco, de 1978, recebeu do escritor e crítico literário Miguel Jorge a observação de que, em meus contos, eu desviava, muitas vezes, para a linguagem da crônica. E nos jornais, sempre me deram como um redator com propensão à literatura. Acho que essa “mistura” foi alvissareira, para mim: os leitores gostaram, eu gostei...

16. Você acha que os fatos vivenciados pelo jornalista podem inspirar o trabalho do escritor (ou o contrário)?

L.deA. – Pois é, já me antecipei também a essa pergunta. Aliás, chego a pensar − sem querer ser pretensioso, que represento bem o escritor que se vale da vivência jornalística, bem como o jornalista que se privilegia por ser escritor. No fundo, eu gostaria muito − tenho dito isso, repito, a tantos estudantes − que essa mistura beneficiasse todos os que elegeram o ofício de jornalista por profissão. Tenho certeza de que nossos veículos ganhariam muito em qualidade. Um exemplo disso ocorreu hoje mesmo, no Bom Dia, Brasil: o apresentador de esportes, Tadeu Schmidt descreveu com filigranas literárias a atuação de Robinho no jogo de ontem. A propósito, os colegas do esporte são os que mais se aventuram nos meandros da literatura, já notou? Eles são a amostra de que literatura e jornalismo podem − e devem − andar juntos.


17. No primeiro século de jornalismo no Brasil, a presença de escritores na imprensa era muito mais expressiva. Para você, o que explica a redução de escritores no jornalismo?

L.deA. – Isso é fruto do processo de evolução social. Conheci escritores aqui, não forjados em ofícios profissionais regulares, que vieram ter às redações justamente para oferecer seu talento com as palavras. E não é difícil, já que o escritor é um observador detalhista de fatos. O perigo está justamente no risco de se fazer da notícia uma peça de ficção − mas isso, como temos visto, a política faz sempre...
Mas, respondendo objetivamente, não existe escola para escritor; existe escola para jornalistas. Escritores somos todos e qualquer um pode vir a sê-lo: qualquer profissional, qualquer desocupado. Quantos presidiários não se tornaram escritores? Um dos principais elementos para o jornalista é a formação ética. Claro que o conhecimento amplo da língua é fundamental e uma bagagem de conhecimentos gerais é indispensável, mas a ética é
conditio sine qua non. Lidamos, ao elaborar as notícias (coletar dados, redigir e divulgar) com a intimidade das pessoas e a segurança da sociedade, entre outros fatores; e, em jornalismo, não vale dizer que “qualquer semelhança é mera coincidência”.


18. Você acha que o ensino das técnicas jornalísticas nas faculdades (lançando um profissional essencialmente técnico no mercado) contribui para essa diminuição?

L.deA. – Digo mais ainda, Ariadne. Esse profissional técnico pode inverter a situação − e parece-me que é isto o que acontece: antes, era o escritor que vinha trabalhar nos jornais; hoje, é o jornalista que se torna escritor. Essa ligeira metamorfose é, no meu modo de entender, uma excelente chance para o nosso crescimento pessoal.

19. Da mesma forma, antigamente os jornalistas-escritores respondiam pelas diversas editorias de um jornal, com destaque para as editorias de polícia, política e de gerais. Hoje, a maioria se concentra em cadernos e suplementos de cultura. A que você atribui essa mudança?

L.deA. Suas perguntas já contém a resposta. Mas, veja um exemplo nacional: Carlos Heitor Conny é um “escritor jornalista” ou um “jornalista escritor”?


20. João do Rio questionava a contaminação entre arte e técnica, no caso de jornalismo e literatura. Ele questionava se a prática de um poderia influenciar negativamente a prática de outro. O que você pensa a respeito disso?

L.deA. – Eu apenas tiraria a palavra “negativamente”. Médicos escritores só escrevem sobre medicina? Não, eles se valem do que ouvem e vêem em seus pacientes, no ambiente social que atende. A. J. Cronin, escritor e médico inglês, produziu muitos romances cujos protagonistas eram médicos. E, ao escrever romances, não o fazia em forma de receitas nem relatórios médicos. Agora, imagine: se João do Rio, que morreu em 1920, pensava assim, o que não pensaria ele hoje, quando nossas vidas são muito menos contemplativas? Vou fazer 60 anos e vivi muitas diferenças, desde 1945 − comecei a escrever com as prosaicas penas que molhava num tinteiro − e, por isso, posso muito bem distinguir esse tempo que, hoje faz de um estudante de ensino médio alguém mais ocupado que um juiz de direito de 1950. Duvido muito que, naquele tempo, a técnica jornalística atrapalhasse o escritor (e vice-versa), até porque, naquele tempo, a diferença técnica era, ainda, muito menor do que hoje.


21. Você acha que o jornalismo é capaz de provocar o chamado “bloqueio criativo” do escritor?

L.deA. – Ah, é hora de outra confissão... Claro que falo por mim e isso não pode ser tomado como regra geral. Quando era, sozinho, uma equipe de reportagem e edição, eu me realizava muito no trabalho. Saber dos fatos, ouvir policiais e presos, encontrar-me com bandidos em “mocós” e horários por eles escolhidos superavam muito da minha vontade de escritor: era, também, uma realização pela aventura, ou seja, eu me tornava aquele personagem oculto em muitos textos literários − o narrador. Assim, a minha produção poética aumentou muito, mas eu não escrevia prosa. Foi preciso voltar ao emprego no banco, onde era obrigado a cumprir horário em ação burocrática, para retomar o gosto pela prosa de ficção − a prosa não-jornalística.


22. Você acredita que hoje é possível abandonar o jornalismo e viver apenas de literatura? Alguma vez você pensou em fazer isso?

L.deA. – Muito difícil. Viver de literatura, no mundo todo, mas muito especialmente no Brasil é quase impossível. Quantos vivem, além dos gráficos, editores e comerciantes de livros? O Paulo Coelho... Acho que só, pois Jorge Amado já morreu. Os outros, mesmo que desfrutando de um grande nome, têm outras profissões que sustentam a literatura do profissional; e são eles, quase todos, jornalistas: Fernando Sabino, Conny... ou funcionários públicos (o melhor exemplo é Drummond).


23. O que a literatura representa na sua vida hoje? Está mais próxima do prazer ou da profissão?

L.deA. – Do prazer, sempre. Houve época em que, premido pelas circunstâncias, levei meus livros diretamente aos leitores, ocasião em que me chamaram de “andarilho da poesia”, expressão que traduzi por “camelô literário”. Pude notar que o brasileiro adora poesia, mas não entende que precisa comprá-la − a máquina do márquetim não ensinou isso ao povo brasileiro. Como essa mesma mídia oferece auto-ajuda, auto-ajuda vende; mas poesia, não. E romance... O romance brasileiro tem de competir com os clássicos − porque não há que se pagar mais direito autoral − e com os enlatados; o livro traduzido já tem a propaganda feita, não é mesmo, Harry Potter?


24. E no caso do jornalismo?

L.deA. – Desde que me aposentei no Banco do Estado de Goiás, exerci o jornalismo, como empregado, por três ocasiões, totalizando pouco mais de dois anos; aí, o jornalismo estava atrapalhando o meu tempo de escritor. Aposentei-me para ter mais tempo para ler e escrever.


25. Você acredita que o jornalismo pode ser uma alavanca para a carreira literária ou que, ao contrário, a literatura pode ser uma alavanca para a carreira jornalística?

L.deA. – Sim, isso pode acontecer nos dois sentidos. Penso, sim, que é saudável − mais ainda para o jornalismo que para a literatura; mas o profissional jornalista, bem como o escritor diletante (escritor, no Brasil, é sempre diletante) há de saber separar as coisas e entremeá-las sem que uma coisa prejudique a outra.



26. Na sua opinião, qual o perfil do jornalista escritor da atualidade?

L.deA. – Esse perfil está em muitos... Rui Castro é um excelente escritor e, nessa condição, escreve como excelente jornalista, ou vice-versa. Livros como as biografias de Garrincha e de Nelson Rodrigues e Carnaval no fogo são excelentes! Fernando Morais: suas obras são grandes reportagens travestidas de romances − Olga, Chatô.... Conny já citei...
Há muitos, e atuais, que dignificam tanto a profissão do jornalista quanto o ofício do escritor.


27. No começo de sua carreira literária, algum “jornalista-escritor” serviu de inspiração para você? Qual(is)?

L.deA. – Pergunte-me por antes ainda... Era um guri de dez anos, no Rio (Marechal Hermes) quando comecei a ler, com prazer de gourmet, Adalgisa Néri, Sérgio Porto (Stanislaw Ponte Preta), Nelson Rodrigues, José Louzeiro... Arthur da Távola, também. Sempre gostei dos textos de Fernando Sabino e de Pedro Bloch. Destes dois copiei o modo de redigir entrevistas não como um pingue-pongue, mas expondo tudo o que se falou com o entrevistado numa crônica jornalística. Cheguei a publicar um livro, em 2000, com 17 entrevistas, das quais apenas uma saiu com perguntas e respostas, e sempre disse que trabalhei naquela técnica à sombra de Fernando e Pedro.


(*) Dessa entrevista, ao lado de outras 12 com jornalistas escritores de vários pontos do País, Ariadne Lima montou excelente matéria para a edição do final de ano (2005) da revista PQN (Pão de Queijo News, BH-MG).

A matéria na PQN pode ser lida em http://www.cronopios.com.br/site/artigos.asp?id=944

3 comentários:

Anônimo disse...

Luiz, parabéns pela lúcida e inspirada entrevista. Transmita a bela entrevistadora minha alegria pelas suas inteligentes perguntas.

Abraço grande

Anibal

Madalena Barranco disse...

Querido Luiz, a entrevista de 2005 é atualíssima, onde entrevistadora e entrevistado mostraram que palavras também têm química. Adorei sua aventura pelo mundo literário, e conhecer o rapaz que descobriu que queria ser jornalista quando perguntou "por quê", ora... Porque naquele momento afirmava-se um escritor-jornalista, que faz bem ao leitor. Beijos e obrigada pelo esclarecimento sobre jornalista-escritor e vice versa.

Mara Narciso disse...

Acadêmica do quarto período de jornalismo, viajei nas suas palavras, e delas extraí vontade e confiança em chegar lá. A fama de profissão não muito bem remunerada, faz as pessoas pensarem tratar-se de um hobby. Conhecendo a sua trajetória de jornalista e escritor, vejo que é possível avançar em várias direções, e com brilho. E alto lá! " As uvas, teus mamilos tenros" é um livro maravilhoso que eu tive o privilégio de ler antes da publicação. É preciso enaltecer o que realmente vale a pena.